sábado, 31 de março de 2007

Underground do mercado de animação no Canadá

Ontem sai com Dale e sua namorada para um pub chamado Casa del Popolo , que por sinal é muito legal. Eles tem shows com Djs toda noite, o mês inteiro. Cada dia com um artista diferente. Quem tocou ontem foi uma mulher bem eclética, até funk Carioca rolou na parada, não pude conter as gargalhadas. Esse é o bar que o Kid Koala costuma tocar, mas pelo que vi no quadro de avisos lá parece que ele não vai sair da toca tão celo.


Foi uma pena ter de sair cedo por causa do horário do metrô. De qualquer forma deu para beber umas cervejas e tirar do Dale umas informações valiosas sobre o mercado de animação no Canadá.

Dale é de Toronto que acredito ser a cidade com maior mercado do país. Os animadores (tanto em Toronto como no resto dos estados) trabalham por contrato temporário que variam entre algumas semanas e alguns meses (No máximo 6). Isso se aplica na grande maioria para trabalhos individuais (propaganda, sites, e-learning etc) e, normalmente, se você está sendo contratado por um estúdio, você vai trabalhar lá dentro. Só recentemente o trabalho remoto está começando a virar moda ( recentemente mas rapidamente).

Quando é um freela para um cliente direto funciona como no Brasil, você trabalha em casa e se vira como puder. Nos estúdio os produtores são os responsáveis por ter dar os recursos e por te cobrar pelo trabalho, eles ficam em cima de você mas te dão toda ajuda necessária, assim como também o diretor do projeto. Dale contou uma história hilária sobre um animador mais "experiente" que foi lhe aconselhar sobre macetes do mercado e disse:"A primeira coisa que você tem que saber é: Não saia com sua produtora!" e continuou "A segunda é: Se sair, não seja um idiota!". Os produtores e os diretores são ótimos contatos para o próximo trabalho e ter uma boa relação com eles é essencial.

Outra coisa comum aqui e diferente do Brasil é o salário semanal. Todos contam por semana. Um animador em flash iniciante aqui (tipo estagiário) ganha $700,00 por semana. Isso pode ir bem mais longe conforme você vai progredindo. Dependendo do tipo de trabalho você pode ganhar de 2 em 2 semanas, por cenas ou por pacotes de trabalho produzido, mas o mais comum é por semana.

É muito raro um estúdio ter uma equipe fixa. O trabalho por contrato temporário é o padrão. Quando você está trabalhando em uma série o contrato pode chegar até a 1 ano, ou (agora vem a malandragem) eles podem colocar você de sócio do estúdio. O que em outras palavras quer dizer: funcionário sem benefícios. Não sei o quanto isso é comum maaaas....

A grande diferença com o Brasil é que aqui no Canadá tem estúdio a dar com pau. Mesmo em cidades menores (como Halifax) ou não tão voltadas para negócios (como Montreal) não é difícil achar emprego na área. No último caso você faz um bico com ilustração, ou trabalha 1 mês no Starbucks. Emprego aqui é o que não falta :) E mesmo quando falta, o salário que você ganha por projeto normalmente é o bastante para ficar uns 3 meses procurando o próximo projeto (segundo a namorada do Dale que trabalha com animação Stopmo a 10 anos em Toronto).

Outra coisa interessante é que, pelo que entendi, o mercado comercial e o mercado de arte não se dão muito bem aqui. Alguns amigos do Dale fizeram cara feia quando ele disse que vinha para NFB. Eu percebo (e isso sou eu, ninguém fala disso) que muitos diretores da NFB detestam trabalhar para o mercado comercial (pudera, é bem melhor fazer o seu filme do que ter que desenhar ursinhos etc).

Em Montreal parece que as coisas não são tão fáceis como em Toronto mas mesmo assim alguns conseguem sobreviver de animação (outros simplesmente se mudam para Toronto).

E o Brasil? me digam o que vocês acham da diferença!? Cada estado tem o seu mercado de animação. Eu só conheço os mercados do Rio e de São Paulo. Comentem sobre o seu estado. Nós sabemos que o Blog já se espalhou pelo Brasil, tem gente de Maceió, Salvador, Aracaju, Paulista, Porto Alegre.... como é o mercado na sua cidade? Se você é de outro país e fala português comente também. Sabemos que tem uma galera boa na América Central e na Europa acessando. Como é o mercado por ai! Estou curioso :P

4 comentários:

Locadora do Werneck disse...

Aqui em Belo Horizonte - MG as coisas não são nada fáceis, temos o único curso de graduação em animação do Brasil (na escola de belas artes da UFMG, curso criado pelo NFB inclusive) e mesmo assim o mercado é quase nulo. Existem pessoas que fazem animação sim, principalmente para comerciais, mas o pagamento é sempre baixo e as agências e produtoras não estão preparadas para pedir serviços de animação (prazos absurdos, orçamentos insuficientes, etc). Muitos ex-alunos aqui da escola foram moram no Rio ou em SP, ou até mesmo em outros países, ou então foram trabalhar com outras coisas não relacionadas à animação. A única saída para a animação artística atualmente parecem ser as leis de incentivo, mas nem mesmo elas compreendem como é o processo criativo da animação. Basta dizer que em um edital recente para curtas, dizia-se que o roteiro tinha que ter um mínimo de 15 páginas, com diálogos... Além disso, eles dão o mesmo orçamento para um curta de documentário filmado em DV sem atores, e para um curta de animação, que dá muito mais trabalho, exige equipe maior, etc. Enfim, aqui em BH todo mundo gosta de animação mas ninguém sabe como funciona. Quem sabe, estuda aqui na UFMG, depois vai morar fora. Uma lástima.

Tudo o que restou do NFB aqui na escola foi uma velha truca que ainda usamos para fazer pencil test, com certeza eles nem se lembram mais da gente :o)

Naquela época eles criaram outros 5 centros no Brasil, alguém sabe o que foi feito deles?

Felipe Fernandes disse...

Bom, o mercado do RJ vc conhece, mas apesar de ter algumas produtoras e etc não é nada fácil conseguir algo no ramo. Se você quiser fazer algo autoral, outch! Ou voce paga do proprio bolso, ou arruma amigos malucos pra te ajudar, ou cata essas leis do governo, que como o amigo aí em cima falou literalmente "cagam". Eu sinceramente acho que quem redigiu a lei não viu a Branca de Neve ou o making of do Monstros S.A... Mas de qualquer forma o que mais me angustia é o fato de se vc é bom de animação no Brasil c nao arrumar nada... Não queria ter q correr pra fora do país, mas chega uma hora q fica insuportável ver seu trabalho ser subvalorizado sempre.

Locadora do Werneck disse...

Eu entendo esse sentimento de querer sair do Brasil para buscar uma carreira de animação no exterior, mas a coisa não está fácil em lugar nenhum. No mundo todo a animação ainda é vista como... ou melhor, ela não é vista. Simples assim. Nem em Cannes as pessoas entendem o que é animação.

Alexsandro Costa disse...

Bom, animação animação aqui em Belém do Pará, só em dvds piratas vendidos nas equinas a preço.......quase dado! É isso mesmo, aqui as pessoas, como no restante do país ,quando falam em animação , só pensam na coisa pronta e acbada, que conseguem com facilidade, devido às distorções de visão de nossa sociedade. Ainda escutamos muito " isso é hobie!" ou "cara isso da muito trabalho!" como se tudo que é bem feito não o desse. Estamos muito acostumados a receber coisas prontas,por isso não queremos pagar o preço de uma produção em animação.
Ir para o exterior está em meus planos ( com data, até) ainda que saiba que nada é um mar de rosas, sei qur o trabalho é visto de forma diferente pelas sociedades mais desenvolvidas.
Depois , o que ELES produzirem , NÓS consumiremos de uma forma ou de outra.