sábado, 19 de maio de 2007

The Bill Plympton Show!

Antes de ontem fomos à Cinemateca de Quebec para assistir ao Workshop do Bill Plympton.

O cara é muito engraçado. Faz bem o tipão Cartunista Americano, sacando piadas de humor negro a torto e a direita. Não esconde que a sua intenção é viver fazendo o que gosta: Filmes de animação que fazem as pessoas rirem e o fazem viajar pelo mundo inteiro ganhando algum dinheiro.

O próprio workshop é parte dessa "estratégia de sobrevivência do animador independente"... Ele sai por ai dando o que ele chama de "The Bill Plympton Show" que é como se fosse uma comédia de palco (ou Stand Up Comedy como eles chamam por aqui). E a coisa parece ser bem ensaiada, ele conta as mesmas piadas e técnicas em todos os lugares... como podemos ver nos vídeos da UCLA e da Creanimax.

Ele começou falando bastante dos macetes e regras que ele usa para seus filmes. O primeiro ele chamou de Dogma para fazer curtas de animação de sucesso.
Dogma para fazer curtas de animação de sucesso:

  1. Curto: Isso significa algo entre 3 e 7 minutos. Filmes curtos não deixam a platéia de saco cheio, são mais fáceis de tapar buracos de programação para os compradores (brodcasters) e ficam prontos mais rápido. O curta acaba sendo o preferido de outros tipos de compradores também... como por exemplo a sociedade de câncer do pulmão que comprou o curta 25 maneiras de parar de fumar. O Filme é o mais bem sucedido comercialmente e dá dinheiro até hoje.

  2. Barato: Não contratar uma equipe gigante, não fazer um estilo impossível, não gastar dinheiro com efeitos especiais, não usar talentos de voz super conhecidos, não desenhar todos os quadros da animação (full animation ou by1).... em outras palavras: Manter simples e direto ao ponto. Ele diz que os filmes dele ficam com custo em torno de $1.000,00 (dolares americanos) por minutos e que mais de $5.000,00 por minuto fica difícil de dar lucro.

  3. Engraçado: "Quando as pessoas vêem um filme de animação elas esperam rir!"...Bill acha que rir tem um efeito medicinal e que é muito mais fácil um filme ser bem sucedido de for engraçado do que se for "chato".
Conclusão: O filme perfeito pra ele é "Bambi versus Godzilla" de Marvin Newland que é bem curto, super barato e muito engraçado. O filme só tem 15 quadros de desenho.


Ele falou bastante dos filmes de Don Hertzfeld também. Super baratos e super engraçados.

Esse vídeo é a abertura do Animation Show (como vocês podem perceber) que está rolando aqui em Montreal. Nós vamos tentar comparecer nas duas semanas que ainda nos restam, fiquem ligados para um post sobre isso.

Por outro lado, depois de ensinar tudo isso ele também diz: "O que eu sei na verdade!? Eu nunca ganhei um Oscar!"... Essa história toda é só o jeito que ele escolheu fazer seus filmes: "O filme Ryan por exemplo! É grande, caro e nem um pouco engraçado e ganhou um Oscar". Na verdade ele diz ainda que nem sabe porque o filme "My Face" foi nomeado, pra ele é uma idéia estúpida sobre a música que deu pra fazer na época com o dinheiro que ele tinha ...e é só isso!

Sinto que a todo momento ele transforma a própria obra em piada. Na verdade o mundo para ele é uma piada. Isso ficou bem claro ao assistir "O Sábio" onde Bill faz pouco da seriedade da filosofia e mostra sua própria filosofia 'escrachada' de vida. Como ele mesmo disse: "Pra mim todo animador deveria ter 8 anos de idade" e muitas vezes parece que ele tem mesmo (ou pelo menos uns 18 :)

Por outro lado ele afirma que sua carreira começou mesmo quando ele foi nomiado ao Oscar e numa segunda parte do Workshop dá uma lista de como mandar seus filmes para festivais que começa com o próprio...

Como mandar seus filmes para os festivais:
  1. Oscar: Mandar primeiro para o Oscar (todos acharam que ele estava brincando e houve uma grande gargalhada na sala)..."Funcionou com o Ryan!" - Disse ele sério... Para mandar você precisa pagar $400,00 (dolares americanos) para um cinema em Los Angeles exibir o filme durante algumas semanas (4 eu acho). Dai você passa a ser elegível para lista do Festival. Qualquer um pode entrar na lista. O Oscar então escolhe dos elegíveis os melhores (o que é chamado de Short List). Dessa Short List eles fazem mais uma seleção de onde saem então os nominados ao Oscar. Parece que no Oscar eles tem até categoria de estudantes e etc... Ou melhor, funciona quase como um festival normal.

  2. Cannes: Todos os compradores estão lá. Ótimo mercado para vender seus filmes.

  3. Sundance: Melhor lugar para curtas independetes.

  4. Annecy: "Se eles gostarem do seu filme vale a pena, vão te tratar como um rei". Ótimo mercado também.

  5. Os outros: Ottawa, Hiroshima, Zagreb, Stuttgart, Clermont Ferrand etc... O Anima Mundi infelizmente não entrou na lista... certamente porque ainda não tem o tipo de "mercado"($$$) que animadores como o Bill procuram.
O Workshop continuou assim. Como ganhar dinheiro e ser bem sucedido... Como ir aonde está o 'negócio' e como fazer seu 'marketing pessoal'...Notas de dinheiro voaram para todos os lados e... Digo, ele não falou de marketing pessoal mas na saída ele fez um desenho para cada pessoa dentro da sala em um cartão postal do seu novo filme. Vendeu livros e DVDs baratos e deu autógrafos em todos.
Outra dica que ele deu foi como tirar o máximo de grana dos seus filmes:
  1. Cinemas: Vender seus filmes para shows, compilações e exibições em cinemas (após ter colocado em todos os festivais possíveis, é claro). Um dos que pagam melhor é o Animation Show (já citado acima)... Ele disse que conseguiu $5.000,00 por "Guide Dog", o que já pagou praticamente toda a produção do filme.

  2. Exibições privadas (fora dos cinemas): Escolas, livrarias, corporações, linhas aéreas, hospitais, associações etc... Como os filmes dele sempre tem um teor "educativo" vale a pena explorar bem esse tipo de mercado.

  3. TV: Depois de fazer todas as exibições privadas possíveis vamos para os broadcasters (o que quer dizer que agora você está a um passo de perder o seu filme já que fica mais fácil de copiar em casa). Para as TVs do mundo inteiro ele faz contratos de 2 anos não exclusivos. O que quer dizer que ele pode vender para duas TVs no mesmo território. Pelo que eu entendo quer dizer que você vai cobrar menos para exibirem o filme mas em compensação você evita a famosa geladeira ou coisa parecida... O que quer dizer que o canal de TV não pode vetar seu filme se eles quiserem.

  4. DVD: Singles, Compilações e Especiais. Os singles são os DVDs que possuem apenas um curta (o que pra mim não é muito justo mas acho que o Bill não vende muitos singles).

    As compilações são um conjunto de curtas em um só DVD que podem ser de apenas um autor ou de um grupo de diretores (como é o caso do DVD Avoid Eye Contact feito apenas por diretores de Nova York).

    Os especiais são compilações que reunem filmes de um único tema. Um dos especiais que estavam a venda era uma compilação de filmes Ambientais que ele fez. A vantagem dos especiais é que eles apelam para a necessidades dos compradores. Por exemplo: Se você é um ativista do green peace provavelmente vai comprar o DVD ambiental, se você é um animador vai preferir o Collection of 2005 Academy Award Nominated Short Films.

    A NFB também faz muito isso, o problema é que se você acaba comprando o mesmo filme duas ou três vezes para poder ter todos os filmes que você quer comprando os especiais e as compilações. É tipo um macete para empurrar alguns filmes que nunca vendem também...vale a pena se você for comprar só uma compilação, mas dai ela tem que ser muito boa.... bom, acho que vocês entenderam o truque :)

  5. Internet: O próximo passo é a internet. Itunes foi basicamente o mercado que ele citou. Faz sentido. Depois que você explorou todas de todas as formas rentáveis você vai para web mas apostando em uma ferramenta que já funciona bem... Tipo, algumas pessoas (talvez não no Brasil ainda mas certamente em outros paises como EUA e Canadá) pagam um preço (pequeno mas considerável em termos de web) para dar download dos filmes e colocar em seus Ipods. Existem outros canais como sites que pagam por visualização de conteúdo etc... Um problema sério que ele aponta é o You Tube, claro, já que os filmes estão sendo exibidos sem retorno.

    Ele também citou a web como uma boa forma de promoção e merchandizing para produtos como DVDs, posters, livros, arte original (tipo frame dos filmes) etc.

  6. Comissão: O último retorno financeiro citado são os trabalhos comissionados que virão através da publicidade que o filme vai fazer por você: Comerciais de TV, Workshops e palestras etc... Abaixo dá pra ver como os filmes podem trazer esse tipo de retorno.



No dia seguinte exibiram alguns filmes no mesmo local: Os primeiros e os melhores trabalhos da carreira. Também foi exibido um filme que ele fez tirando sarro de animação abstrata. Depois desse veio um filme abstrato tirando sarro das animações dele feito por um outro diretor. Foi bem engraçado porque o filme era uma brincadeira com os filmes de Norman Maclaren mas no centro de tudo sempre viamos um frame do filme "My Face" e diversos sifrões ($) voando pela tela. Acho que Bill não gostou desse filme quando ele foi lançado mas agora parece que ele faz como todo o resto: Leva na Brincadeira.

Nesse segundo dia a Martine Chartrand também foi ao evento e descobrimos que ela é uma amiga antiga do Bill. Acabou que ela nos chamou pra Jantar com ele! Fizemos vários desenhos no papel da mesa do restaurante que demos de presente uns para os outros. Reclamou-se bastante do You Tube e todos encheram a cara de vinho....Foi um dos melhores vinhos que já bebi... e melhor ainda porque foi pago pelo curador de animação da Cinemateca de Quebec que estava com a gente :)

(da esquerda para direita) Diego Stoliar, O curador da Cinemateca, Bill plympton, Martine Chartrand, o marido dela e Jonas Brandão.

3 comentários:

viquetor disse...

que cara de bêbado sem vergonha, jonas!

RR Animation Films disse...

O vinho tava bom. E olha que eu não gosto de vinho.

Henrique Garcia disse...

olá jonas, podes me arrumar o video da árvore do bill???? nao tem mais no youtube :(