terça-feira, 27 de março de 2007

Basic Love - Progress Review

O Progress Review é uma reunião que temos com a chefia para mostrar como progredimos nas últimas duas semanas. Mostramos o animatic e rediscutimos qualquer questão que possa estar ainda atrapalhando a história e analisamos o que já foi feito em termos de produção (animação, pupets, cenários etc) para saber se tudo está correndo bem, se precisamos mudar o caminho que estamos trilhando e também para definirmos mais ou menos o que faremos nas próximas semanas.

No review de hoje estavam Mike Fukushima, Torill , Maral e Randall, todos esperando por cada hot houser numa salinha de reunião distante do nosso estúdio. Num primeiro momento eu pensei estar indo para o abatedouro mas não foi nada disso. Eles gostaram bastante do que eu mostrei até agora. Acho que ainda existem preocupações deles (e minhas) de como tudo isso vai funcionar junto no final, mas Torill como sempre acalma tudo dizendo que nessa fase isso é normal, é a hora de tomar as decisões mais difíceis.

Michael parece ter gostado dos testes de animação, ele recomendou para que Maral me levasse até a Sandde! Essa foi a parte excitante da reunião, eu quero muito conhecer a Sandde. Hahahaha. Eu não vou contar quem ela é ainda mas tomara que eu venha a conhece-la logo!

Abaixo vocês podem ver os testes de animação que eu apresentei no review:



Talvez não de para ver TODOS os frames porque é vídeo de internet mas dá para ter uma idéia. PS:Se você quiser ver mais frames o ideal é tocar pela segunda vez!

Meu problema vai ser conseguir criar um ritmo compreensível e variado. Que tenha leitura mas que ao mesmo tempo seja uma experiência sensorial para o espectador. Ele sente e entende o que é mas não consegue explicar em detalhes.

O outro desafio é manter as formas ambíguas. Você vai poder ler o filme tanto quanto algo macroscópico quanto algo microscópico. Pode ter acontecido no espaço sideral ou no espaço biológico. Bom, pelo menos essa vai ser minha intenção e meu desafio, vamos ver se será possível!

No geral foi Ok. Estou mais preocupado que antes mas foi Ok!

segunda-feira, 26 de março de 2007

Na bilbioteca da NFB - Parte 01

Quem de alguma forma possui um vínculo com a NFB tem acesso à biblioteca e videoteca da instituição. É possível emprestar quantos livros você quiser por duas semanas, e quantos filmes você quiser, por uma semana, tudo gratuitamente. Geralmente, os filmes estão em VHS, mas é possível encontrar uma coisa ou outra em DVD. Vale lembrar que os filmes são todos produções da NFB, então se você quiser assistir a um filme do Bruce Willis, procure em outro lugar!

A biblioteca é um lugar pequeno, mas muito generoso. Como é muito difícil encontrar livros de animação em qualquer lugar do mundo, a pequena estante do gênero pode parecer encantadora. Há muitos títulos em francês interessantíssimos. Livros de teoria, dissertações de mestrado. Pena que eu não consigo entender muito da lingua ainda. Mas muitos dos títulos disponíveis estão em inglês, e tem muita coisa bacana.

Um dos livros que eu peguei, e que eu acho muito legal, é o "Unsung Heroes of Animation", de Chris Robinson. O livro é uma coletânea de textos sobre 25 animadores independentes, como Ryan Larkin, Igor Kovalyov e Koji Yamamura. Cada capítulo aborda um diretor específico, e em poucas páginas são traçadas suas biografias, retrospectiva de suas carreiras, e comentários acerca de alguns filmes específicos, ilustrado com still dos filmes e às vezes fotos dos diretores. É um dos poucos livros de animação que fogem do perfil técnico e da Bouncing Ball, e é bem legal pra quem quer começar a conhecer esses senhores gentis da animação.

O mais legal da biblioteca é que vira e mexe você retira um livro e vê na fichinha de locação dos livros vários nomes conhecidos. Esse livro, por exemplo, tinha sido pego pela Wendy Tilby. Um outro livro, pelo Paul Driessen. Isso é muito bacana. É muito legal imaginar que todas as pessoas que acabaram me transformando e me incentivando, indiretamente, a fazer animação, passaram por aqui, e tiveram acesso a tudo que eu estou tendo.

Andreas Deja

Haha, eu conheço alguém que conhece o Andreas Deja. Hauhauhauhauha.
Marieve da ToonBoom encontrou com ele na exposição da Disney no Museu de Fine Arts de Montreal.


Pra quem não sabe quem é o sujeito: Hoje é o cara responsável por toda animação do Mickey nos longas que possivelmente possam ser feitos na Disney. Ele também animou a Lilo do 'Lilo e Stitch' caso seja necessário uma referência mais direta sobre a qualidade do bacana.

Ele e James Baxter são meus animadores preferidos. Os caras são muito feras mesmo. Você pode ouvir uma entrevista com ele no Animation Podcast em 1, 2 e 3 partes e outra na FPS Magazine.

Notem que eu acho que quem tirou a foto foi o Roy Disney (Ou será que é o filho dele?).... de leve, disfarcem e finjam que vocês não viram isso!

Desapontado com os Filmes

Infelizmente fomos ao cinema ver Pinocchio e a projeção não era em 35mm. Assim que vimos os pixels da compressão de DVD demos um grande Ahhhhh.... Não acreditei! Bom, de qualquer forma foi bom ver o clássico na tela grande. Fazia tempo que eu não via Pinocchio, ainda mais com uma sala lotada de gente. Novamente a Disney me impressionou, toda a platéia acompanhou a história de perto até o fim. Assim que o Geppetto dançou com o Pinocchio ainda de madeira bem no começo do filme já deu pra sentir que seria ótimo ver tudo de novo, mesmo sem os 35mm de qualidade. Na verdade fiquei com vontade de ver mais uma vez.

Encontramos novamente a Tamu (revista FPS e Autodesk) e mais um animador amigo dela. Ela nos indicou o endereço correto da loja de DVDs La Boire Noire. A loja é careira mas tem coisas realmente legais. Eu comprei um DVD do Samurai Jack temporada 3, um de um curta baseado no quadrinho do Mignola (feito no estilo dele que eu adoro) e o Filme sobre a história de Michelangelo (Agonia e Extase)...Só isso deu $60. Não sei se foi um bom negócio mas nem sempre é!

Em compensação fomos também a um sebo de quadrinhos. Lá adquiri O número 1 do Akira, 4 quadrinhos daqueles finos e de capa dura (estilo eropeu) e mais um manga chamado Ping Poing (muito bom). Mais uns $60. O dia foi dispendioso mas acho que valeu a pena no final.

Na verdade não sei se valeu tanto a pena. É bom para você comprar coisas que nunca vão aparecer no Brasil mas parece que algumas coisas são mais baratas pela Amazon. Não tem como definir uma regra muito fixa sobre o que comprar aqui no Canadá, o que comprar ai no Brasil e o que pedir na Amazon. Acho que o que for raro e nunca for para o Brasil vale comprar aqui. Menos o que tiver na Amazon. Coisas de informática tipo microfones, fones, memory key são muito mais caros aqui (comprem no Brasil). Cameras de foto e vídeo são equivalentes os mais baratas na Amazon. Mas por outro lado Notebooks aqui são beeem baratos, tipo $800 um bem bom. Ainda estou aprendendo :/

sexta-feira, 23 de março de 2007

Come again in spring

Ontem foi um dia bem diferente na NFB. A nossa amiga Belinda Oldford, esposa do animador Brasileiro e nosso padrinho aqui, Daniel Schorr, exibiu em primeira mão o seu filme "Come again in Spring". É um filme muito bonitinho, sobre um velhinho que alimenta os pombos no inverno, e é visitado pela morte. Ele diz que não pode ser levado, porque os pombos precisam dele pra sobreviver, e pede à morte que volte novamente na primavera. A morte, traiçoeira, faz três perguntas para que o velhinho responda. Caso ele não consiga, ele morre naquele momento. O filme de pouco mais de 10 minutos é bem poético, e era inicialmente um projeto do Ishu Patel, um dos grandes nomes que já passaram aqui pela NFB. Ishu Patel acabou se aposentando mais cedo, na época que ele estava começando esse projeto, e a Belinda acabou herdando o projeto.

Foram 6 anos até a exibição de ontem. Belinda tem um estilo de animação arrojado, de desenho tradicional mais realista, o que dá um trabalhão pra fazer, e o filme sofreu sérias mudanças no decorrer da produção. Depois que ela tinha tudo animado, ela começou a colorir tudo em acetato. Mas como o estilo dela é um estilo bem difícil de se animar, as cores não ficaram pra trás. Ela quis um efeito meio aquarelado, com várias manchas, o que fez com que as cores também fossem animadas. E isso estava levando muito tempo, então os produtores exigiram que ela fizesse no computador. Acabou sendo uma confusão juntar o que já estava pronto em acetado, e simular as mesmas cores e efeitos no Painter, sendo que ela nem sabia usar o software direito. Acabou que com tudo isso, depois de seis anos, ela estava muito contente em poder finalmente exibir o trabalho finalizado. Bacana! Fiquei muito feliz por ela, e durante a exibição, conforme as pessoas iam chegando, eu fui ficando nervoso também.

Todo filme feito aqui tem a tradição de passar por isso. Logo após a mixagem final, os diretores e produtores promovem o que eles chamam de Playback, que seria uma primeira exibição do filme, pra ver como o filme é recebido, e repassar e ver se está tudo ok. E os playbacks são grandes eventos. As pessoas saem de seus escritórios e vão andando em direção ao teatro, e no caminho vão gritando "Playbaaack!!", batendo nas portas que estiverem fechadas, e as pessoas param o que estiverem fazendo para irem assistir. Eu acho que nós vamos ter algo assim por aqui. Dá um nervoso que só... :)

Dia muito cheio de novidades

Hoje foi um dia cheio. Fomos até uma exibição de alguns filmes da Disney em 35mm. Steam Boat Willy e uns 10 outros. Eles fazem parte de uma enorme exibição dos artistas europeus que trabalharam para Disney que está rolando no Montreal Museum of Fine Arts.

Nos disseram que a visita, para que vejamos tudo, deve durar umas 4 horas. Além das artes de produção também estão sendo exibidos os longas da Disney: Na sexta vai passar Fantasia e no domingo Pinoquio... Entre muitos outros. Uau!!! Certamente vou estar lá.

Ver os clássicos em pelicula é certamente uma experiência impagável, principalmente para quem trabalha com animação. A principal diferença é que na pelicula não existe compreesão de video. O que se traduz em mais cores do que é possível se ver no computador ou na tv e mais resolução também (Ou melhor, resolução total). Você basicamente consegue ver a textura do papel no traço.

Eu me diverti muito hoje com os filmes da Disney. É incrivel ver como eles ainda funcionam com o público. Na verdade eu me identifico mais com o movimento do que com as gags em si. Enquanto todos estavam rindo das muitas flautas que Donald tirava da manga eu estava rindo da forma como se movia ou como Mickey dançava etc. Mesmo nos filmes mais antigos eles acertavam a mão com a animação. Apenas o bastante para contar a história de uma forma cativante.

Fomos a esse cinema com Jody, Carla e Matt Forsythe. Matt é um dos contribuidores do site Drawn que muitos ai no Brasil devem conhecer. No fim da seção Matt encontrou com um amigo que depois descobrimos ser Emru Townsend, um dos jornalistas/animadores da revista FPS magazine que eu leio ai do Brasil. Quando saímos do restaurante conhecemos Tamu Townsend, a irmã de Emru. Conversando melhor com ela na ida até o metrô descobri que ela trabalhou mais de 2 anos na Toonboom, é grande amiga do Segio e da MarieEve (nossos 2 contatos lá) e que agora ela está na Autodesk (Empresa que faz o Max e o Cad até onde eu sei). Ela também escreve para FPS também e já tinha ouvido falar da 2Dlab no último festival de Ottawa. Incrível o número de contatos e coincidências.

Na verdade isso acontece aqui o tempo todo. Parece que todos os caras muito muito bons (Fora os do Brasil claro :D) são sempre do Canadá. Outro dia estava conversando com o Dale sobre um curta que eu adoro chamado Basin Street Blues e ele me disse com toda naturalidade do mundo: "Ah! Do Kid Koala!? Esses caras são aqui de Montreal, eles tem um bar em no centro e toda primeira sexta do mês eles dão uma festa especial lá que fica cheio de animadores, eu conheço um deles e a gente pode ir lá, agente fala com eles etc"... Eu não havia percebido mas enquanto ele falava eu acabei babando no teclado. Tentei disfarçar, fingir que eu nem ligava muito para aquilo, mas acho que nem deu. Esses caras são realmente muito bons. Um deles é um DJ de mão cheia e o outro anima em After Effects.

Basin Street Blues


Kid Koala Live


Conto mais das exibições da Disney depois que conseguirmos ir até o museu

quinta-feira, 22 de março de 2007

Site Oficial do Hot House 4

Está no ar agora o novo site oficial do Hot House 4. Clique no link Podcast para ver os animadores falando sobre seus projetos.

Desenhando no Metrô

Ah! o metrô de Paris.....digo, de Motreal!

Sério, o metrô daqui é do tipo velhaco. Pequeno e balança a bessa (o que atrapalha um pouco na hora de desenhar). Ele nem é tão velho assim na verdade. Foi instalado nos anos 80 mas como Montreal não é uma cidade muito grande acho que eles não acharam necessário fazer um metrô peso pesado.

Os canadenses são bem mais sutis que os brasileiros. Muitos ficam vários minutos parados na mesma posição quando estão sentados no metrô. Isso é um ponto positivo para desenhar. De qualquer forma eu tento não gastar mais do que 2 minutos em cada desenho, tentando baixar essa média para 1 ou menos.

Tento sempre me prender aos textos sobre desenho gestual do Walt Stanchfield (É, de novo ele) quando estou fazendo esses desenhos. A algum tempo atrás eu conversei com os responsáveis pelo site da Animation Meat e eles permitiram que eu traduzisse os textos para o português. Ainda está na minha lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer.

Ps: Sei que não sou o melhor em português maaaas é melhor do que nada. Quem estiver disposto a me ajudar favor entrar em contato :)

quarta-feira, 21 de março de 2007

Animando a Borboleta

Hoje eu passei o dia criando o design e animando a borboleta do meu filme. Ainda não vou colocar o teste mas vou falar um pouco sobre o processo que eu usei e alguns insights sobre animação que me vieram a cabeça enquanto eu trabalhava.

Primeiro eu defini bem meus key frames e breakdowns esboçando mais ou menos aonde e como eu queria a borboleta e aumentando a exposição de cada quadro para definir mais ou menos o timing geral. No fim disso eu tenho um pencil test da minha animação (que fica meio engasgado mas já te dá uma boa noção do movimento final). Nesse primeiro passo eu faço meus testes e experimento bastante. É muito mais fácil errar aqui e consertar, ou experimentar, do que depois.

Quando estou fazendo essa primeira pincelada na animação sempre me vem na cabeça a frase do Rembrandt que o Richard Willians cita no Survival Kit:'Comece com o que você sabe e o que você não sabe vai se revelar para você'. Eu sempre penso:O que tem que estar lá? Que quadros são essenciais para essa animação? Que poses certamente vão entrar nessa cena? - Começando por ai fica bem mais fácil chegar a conclusão de como fazer os quadros "secundários" entre esses quadros essenciais, e antes que você perceba sua cena está pronta.

Outro ponto importante que me ocorre nesse processo é pensar que um timing constante é, na maioria das vezes, mais chato que um que varia de velocidade, tanto em termos de deslocamento de massa (movimento da borboleta pela tela) quanto em termos de coordenação motora(como a borboleta bate suas asas). Variar em todos esses aspectos e tentar adicionar pequenas reações e peculiaridades do movimento das borboletas é o que vai deixar a animação mais rica e, conseqüentemente, a borboleta viva.

Uma coisa que ficou legal nessa pequena animação da borboleta foi a variação de tamanho. Ela começa o vôo perto da tela, vai para longe (ficando bem pequena) e volta para perto chegando quase a tocar na lente. Isso me lembra também das aulas de Walt Stanchfield. Eu adoro tudo que ele escreve. Uma das coisas mais básicas e óbvias que aprendi com ele foi a tornar mais consciente o controle de tamanhos, superfícies, sobreposição e contorno durante a animação. Isso é beeeeem óbvio mas me atingiu como um raio: 'É claro! Que burro'. Esse é outro "macete" para enriquecer sua cena. Os curtas do Roger Rabbit tem cenas alucinantes que abusam demais desse conceito.

Outra coisa legal sobre essa pequena cena da borboleta é que eu vou misturar 3 formas de animar no Flash:Recortes com tweening (Usando os mesmos desenhos deformados mas fazendo o Flash animar para você), Recortes quadro-a-quadro (usando os mesmos desenhos mas deformando-os a cada quadro e corrigindo detalhes etc) e Animação Full (Redesenhando cada quadro. Principalmente para os momentos onde ocorre rotação tridimensional)

Bom, acho que está bom para esse post!

La Boite Noire

Montreal é uma cidade surpreendente. Conversando com Luigi Allemano a respeito de um curta que eu vi na sessão Panorama do Animamundi, "Svetlonos", de Vaclav Svankmajer, filho legítimo em talento e técnica de Jan Svankmajer, descobri que há uma loja de DVDs aqui em Montreal em que você consegue encontrar todo tipo de curta independente de animação, coletâneas e coisa e tal. Se você não achar, eles encomendam. Eu nunca imaginaria uma lojsa assim em qualquer parte do mundo. Talvez só em Montreal mesmo. A loja se chama La Boite Noire, e fica na rua St. Denis, não muito longe da casa que estávamos ficando antes de encontrarmos o nosso apartamento por aqui.

Desde o Animamundi eu venho procurando sem sucesso por vídeos desse filme. Acabou que esta manhã eu encontrei um clipe, montado por algum tcheco bacana, com uma pequena parte do filme. Pensando bem, o cara tirou a trilha original, que é ótima, e colocou uma música do Apocalyptica eu acho, ou coisa assim, então talvez ele não seja tão bacana assim.



PS: Estranhamente "Svetlonos" ficou na mostra Panorama e não entrou na mostra competitiva do Animamundi... Ele, "Flatlife" e História trágica com Final Feliz" foram os melhores filmes que eu vi ano passado!